Conta-se que há mil
anos em uma dessas terras distantes a qual ninguém mais se lembra do rei e nem
das vistosas cenouras produzidas aos fundos do castelo, um homem com bochechas
vermelhas como pitanga chorava a beira do caminho. As pessoas que por ali
passavam se indagavam caladas ou a pequenos sussurros: será dor de luto ou dor
de dente? Porém ninguém se aproximava, seja dito de passagem, nem precisava já
que sua tristeza podia ser vista a milhas. Os dias passaram, a contar 130 dos
365 que o ano possui, todos os dias no mesmo horário chorava a orla do caminho.
Naquela época os homens
vendiam, as mulheres cuidavam e as crianças se apaixonavam, logo cedo sim, para
não perder a paixão pela vida. Amavam os pais, os pardais, as flores dos
quintais, a vida simples como ela é, a tarefa de casa era nunca se esquecer do
amor que há no mundo, infelizmente ao crescer nem todos faziam a tarefa de
casa.
“O choro pode durar uma noite mas a alegria
vem pela manhã” foi o que a pequena leu no calendário pendurado na parede da
oficina do carpinteiro, logo lembrou do homem das bochechas pitanga e se
perguntou quantos dias levariam a noite do moço.
A mãe da menina naquele
dia pediu para que ela fosse trocar alguns brócolis por cenouras com o
jardineiro do castelo. Catarina, colocou seu chapéu, calçou suas sandálias e
pegou sua cesta. A menina saiu, andando e saltitando e sorrindo aos quatro
ventos, passou pelo campo de flores e decorou seu chapéu com várias cores.
Seguindo passou pelo lugar onde sempre via o homem das bochechas pitanga, só que
dessa vez ele não estava lá, será que havia morrido de tristeza? Catarina ficou
triste com a hipótese que criara.
Ao chegar no castelo e
olhar por toda horta direcionou-se ao jardineiro que agora tinha um novo
ajudante, seu nome era Pompeu, ele se parecia muito com o homem das bochechas
pitanga, a diferença era que sorria e assobiava enquanto colocava sementes de
girassol para alimentar os passarinhos que ali passeavam às manhãs. Catarina
ficou atônita, mas com um sentimento de curiosidade feliz no coração. Se
inclinou a sussurrar ao jardineiro:
- Aquele é o homem que
a beira do caminho ficava a chorar?
- Por que não pergunta
a ele? – O jardineiro respondeu.
Acanhada Catarina se
aproximou de Pompeu e percebeu que os olhos que em lágrimas se derramavam agora
brilhavam como estrelas da noite mais escura.
- Moço, por que o senhor
chorava?
Com uma pausa Pompeu a
olhou e respondeu:
- Porque meu coração
chovia e se alagava todo dia, o ladrão roubou minha alegria.
- E agora? Seu coração
não chove mais? Você pegou o que foi roubado de volta?
- Não exatamente,
pequena menina, a minha alegria era coisa que a gente pegava com a mão, que o
vento levava, que o gafanhoto comia, meus conceitos e pensamentos eram
egoístas e pó. De manhã o dia é bem mais bonito; com os olhos sem lágrimas pude
enxergar que o céu - depois de tanto tempo - ainda continuou com o brilho azul.
Que nenhuma nuvem negra faz casa em cima da nossa cabeça, mas que o vento também
a leva. Descobri que alegria de verdade o tempo não pode fragmentar. Que a
esperança pode ser encontrada nos olhos daquele que a leva mesmo em dias ruins.
Que Deus não mora longe, que Ele também anda descalço e desenha na terra com um
graveto, que Ele queria enxugar minhas lágrimas o tempo todo e só eu não
percebi, que o meu inimigo era meu próprio eu que se não queria enxergar o Amor
que eu recusava a aceitar.
- Mas, seu Pompeu, qual
é a sua alegria agora?
Com um sorriso de orelha
a orelha, Pompeu olhou ao céu e respondeu:
- Saber que minha
casa é o abraço de Deus.
Catarina o abraçou e
agradeceu pela lição que sabia que levaria em cada um dos dias enquanto morasse
nessa terra.
Na hora de dormir,
pediu benção aos pais, foi pra sua cama, ajoelhou e agradeceu por entender que
feliz mesmo é aquele que mora no abraço de Deus.
Vilhena, 07 de março,
quarta-feira, 2018.
Joicy Vakiuti
Nossa Joicy!! Não sabia que tb escrevia textos literários. É como nas outras habilidades, aqui tb é ótima!!
ResponderExcluirParabens!
Ahhh, Nidiane! Que alegria te ver aqui <3 Muito obrigada!
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ResponderExcluirParabéns, Joicy! Muito bom!
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