terça-feira, 23 de maio de 2017

As rodinhas


- Mãe, quero tirar as rodinhas!

    Aqui no interior sempre foi barro mesmo, quando caía era na lama e cascalho, voltava para casa sempre com o joelho ralado. Não precisava ir a venda da esquina para comprar frutinhas, as árvores moravam no nosso quintal. Eu tinha de estimação um pé de algodão (que colhia sempre que precisava plantar meus feijões depois que minha mãe os escolhia).

    Em frente de casa os meninos soltavam pipa e as meninas faziam fila para brincar nas amarelinhas riscadas com um graveto na terra. Eu, sentada no banco de madeira, com várias cores os desenhava sem pressa. Todo mundo buscava o céu.
   
    Os meninos fazem vestibulares, prestam concursos. As meninas também. Todos buscam a terra. Eu continuo desenhando e caindo sem as rodinhas da minha bicicleta. Levo a tranquilidade na garupa e a felicidade na cestinha, olhando o mundo no binóculo e ilustrando descobertas.

Não pense você que tirar as rodinhas é para quem já sabe correr e fazer manobras com aquela bicicleta azul de cestinha. Tirar as rodinhas é para poucos, porque sonhar mesmo é só para quem tem essa tal de coragem.

Joicy Vakiuti

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